sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Até breve David

Há cerca de 32 anos, o meu filho, então com pouco mais de dois anos, chega a casa, ao final do dia, vindo dos tempos livres que a mãe geria na sede da ADF e informa-me: Pai vou deixar de ser do Sporting. Porquê, se o Sporting é o melhor clube do mundo, questionei. O meu amigo David Pedro é do Benfica e disse-me que eu também tinha que ser do Benfica. O Pedro, que adorava  o  David Pedro, que tinha na altura seis anitos e lhe levava todos os dias um brinquedo diferente para que o Pedro pudesse brincar,  passou a ser do Benfica. Foi uma pequena maldade que o David Pedro me pregou. 

Mais tarde, muitos anos depois, quando nos encontramos, na maioria das vezes eu a fazer reportagem das provas de triatlo para a RCB e ele na sua função de spiker, lá lhe lembrava a maldade que me pregou.

Tive o prazer de o entrevistar enquanto dirigente da Federação Portuguesa de Triatlo e do que foi possível extrair das nossas conversas o David Vaz era um jovem com um manancial de conhecimentos  extraordinária e se fosse sobre triatlo ou ciclismo, diria que havia poucos como ele em Portugal. Aliás, não era por acaso que era convidado para fazer comentários sobre estas duas modalidades na RTP e na Sportv. 

Tomei conhecimento da situação do David numa daquelas caminhadas nocturnas. Numa delas encontrei o meu amigo Álvaro Roxo Vaz que me pôs ao corrente da situação. Passei a ficar mais atento à evolução da doença e, a dada altura o David publica um comentário em que diz que os exames que tinha acabado de fazer estavam limpinhos. Pensei eu, e seguramente muito boa gente: o David venceu esta batalha.

Quando recentemente assumi a responsabilidade da gestão da RCB tive uma conversa com o chefe de redacção Paulo Pinheiro para planearmos a inclusão de um programa diferente sobre a temática  do desporto e a primeira pessoa de que nos lembramos para integrar a equipa foi do David Vaz. Conversei com o seu pai para poder obter o seu contacto e fiquei a saber que a doença tinha voltado e com mais força. 

A partir daquela conversa com o Senhor Álvaro fiquei ainda mais atento ao que se passava com o  David. Cá por casa a D. Adelina verteu muitas lágrimas quando  as noticias que nos chegavam não eram as melhores. Para ela o David era um dos seus meninos.  Foram  dois anos de ligação, ela que estava na altura no inicio de carreira como educadora,  mas ainda sem colocação, tendo fundado os primeiros tempos livres no Fundão e ele um dos pequeninos que ali passava diariamente algumas horas. A páginas tantas, as lágrimas corriam pelo rosto dos dois.

Por mais que se possa estar à espera que o dia fatídico pode estar para breve, nunca, em situação alguma, estamos preparados para a perda. A noticia chegou logo pela manhã. Foi um choque muito profundo para os dois. Sentimos muito a partida deste jovem.

O fundanense, David Pedro, que sabia usar os nossos termos, o desportista, o comunicador, o amigo, partiu mas ficará para sempre na nossa memória e nos nossos corações. Estou seguro que lá no alto vai velar por todos nós.

Adorava ter as palavras adequadas para poder minimizar a dor que o meu amigo Álvaro Roxo Vaz, a D. Nelinha e a Vera Lúcia estão a sentir com a partida do seu menino, do seu mano. Uma dor eterna.

Até um dia David Pedro Vaz.


Deixo aqui a mensagem do pai do David, no dia da sua partida, para a importância dos Amigos:


COMO É BOM TER AMIGOS...
O David tinha apenas 38 anos de idade.
Descontando 2 anos em que o seu viver foi tomado por momentos de grande sofrimento, a sua vida foi demasiado curta para realizar tantos sonhos que ele acalentava.
E que acalentava com toda a legitimidade.
Foram apenas 36 anos e 77 dias.
Foi muito pouco tempo.
O David era um apaixonado pela vida.
Mas também um apaixonado pelo desporto.
E só ama o desporto quem ama a vida.
Poderia dizer-se que a vida foi cruel para com o David.
Mas a nossa existência acaba por ser uma luta entre a vida e a morte.
Foi vencido por essa doença terrível:- um cancro cerebral do tipo glioblastoma-nível IV.
Resistiu-lhe o quanto pôde e contrariou todas as estatísticas – resistiu para além de tudo o que era conhecido.
Mas nós queríamos mais.
É verdade que o David não morreu, pois continua bem vivo no nosso coração.
O David apenas se adiantou na partida.
Porventura aconteceu o que por vezes acontece em muitas competições.
O David teve uma falsa partida, mas sem lugar a repetição.
Em toda a sua vida o David contou sempre com a presença de muitos e muitos amigos.
E eles foram muito importantes nos últimos momentos dessa sua curta existência.
Mas se essa presença significou uma vida cheia, então o David teve uma vida plena.
E todos esses amigos têm um lugar muito especial no nosso coração.
Álvaro Roxo Vaz