terça-feira, 8 de abril de 2014

C.CAÇ.4246/73 - Uma companhia de Abril

O relato que se segue é o testemunho do meu comandante de Companhia, a Caçadores 4246/73, Christian Bastos Andersen, uma das companhias que participou no 25 de Abril de 1974. Neste testemunho ficamos a conhecer as motivações que estiveram na origem da participação no 25 de Abril, o que se passou no antes e no depois ao dia da libertação do nosso país.

O 25 de Abril na primeira pessoa
ANTECEDENTES: O que terá levado um jovem de 28 anos, de família bem instalada na vida, casado e já com 3 filhos, que nunca teve grandes iniciativas revolucionárias (nem acreditava nelas!) a entrar numa revolução?

Muitas vezes me interroguei e reflecti sobre esta questão. O que é facto é que entrei de alma e coração nessa revolução, sem hesitações, embora ciente de que eu, a minha família e amigos iriamos perder privilégios, que seria uma revolução sangrenta (previam-se pelo menos uma semana de combates!) e que o resultado ainda era incerto, tanto mais que sabíamos que a Pide tinha conhecimento do golpe.
Nós somos, em cada momento, a soma daquilo que aprendemos e vivemos até essa altura. E atribuo muita importância há alguns factores específicos:
A minha ascendência dinamarquesa. De facto o meu pai foi dinamarquês até muito tarde, só se tendo naturalizado Português já eu era maior. Eu podia até ter escolhido a nacionalidade dinamarquesa, o que não fiz (alguns dos meus familiares optaram por se tornarem dinamarqueses) mesmo sabendo que com essa opção teria que fazer o serviço militar, o que acarretaria em média 3 anos sem trabalhar na minha profissão e provável ida ao Ultramar com riscos de ter de combater. Mas de facto, nunca tendo ido à Dinamarca nem sabendo falar dinamarquês e gostando muito de Portugal – já, nessa altura não tinha dúvidas de que era A MINHA TERRA! – não me fazia sentido deixar de ser português, só para fugir às chatices e riscos de uma guerra colonial, mesmo não concordando com ela. Esta minha escolha também teve muita importância em opções futuras: já que tinha escolhido ser português, então não teria lógica que não tentasse ser sempre um bom português!
Por outro lado o meu pai transmitiu-me uma série de valores de honradez, respeito aos outros, etc… que me conseguiu passar. Ele tinha sobretudo uma crença, que eu herdei, que a nossa passagem pelo Mundo não faria sentido nenhum se não o deixássemos melhor do que quando cá chegámos. E que se queríamos que o Mundo se tornasse melhor eramos nós e não os “outros” que tínhamos que lutar por isso. Alguns destes valores tenho muita dificuldade em vislumbrar nos meus conterrâneos: para muitos portugueses, quando as coisas não estão bem a culpa será sempre de terceiros (o Estado, o patrão, a Lei, etc…) e eles não podiam nem podem fazer nada para ajudar a resolver os seus problemas. É o nosso fado!
Outro antecedente que teve muita importância em tudo isto: a minha educação escolar ter sido determinantemente conseguida pelos Jesuítas: dos 8 aos 17 anos estive, em regime de semi-internato (entrava às 7h e saía às 19h) no colégio S. João de Brito. Aí tive franco contacto com a pobreza dos bairros da lata, pois eramos convidados a visitar e ajudar as pessoas que viviam no Bairro da Musgueira, o maior bairro da lata dos arredores de Lisboa. Portanto constatei brutalmente que o mundo simpático e familiar onde eu vivia, e que o Regime nos vendia como sendo semelhante ao da maior parte dos portugueses, era uma enorme e terrível mentira! Na Musgueira vi uma enorme miséria material e humana: a Polícia não ia lá, não havia qualquer tipo de saúde, ensino, recolha de lixo ou qualquer outro tipo de apoio, com excepção de uma missão católica e das conferências vicentinas. As “casas” eram um espaço com lama, sem água, nem electricidade, nem esgotos onde as pessoas se amontoavam na maior promiscuidade tornando os termos pedofilia, violência, prostituição aos 10 anos, roubo, etc… meros adjectivos do quotidiano da maior parte daquela gente, sujeita à exploração mais ignóbil por alguns lideres locais, autêntica rede mafiosa de que ninguém conseguia fugir. Era a face negra do Regime que urgia mudar.
Os Jesuítas tiveram também uma influência muito importante na minha educação, pois tendo um ensino excelente, tanto técnico como humano e religioso, ajudaram-me a ser um tipo com curiosidade de conhecer a verdade (tirei alguns cursos superiores) e um crente profundo. Acreditar que a felicidade se alcança quando nós amamos o próximo ajudou-me muito na opção final pela revolução: por muito difícil que seja de acreditar também foi uma decisão de Fé e de Amor! Só tenho pena é que tantas vezes eu não consiga, por preguiça ou egoísmo, ser coerente com a minha Fé!
Quando entrei na Faculdade vivia-se em pleno as lutas académicas da época marcelista. Também andei em algumas dessas manif, mas sobretudo porque era divertido andar a chatear os polícias e depois fugir deles. No entanto nunca consegui levar muito a sério os meus colegas ”revolucionários” porque só consegui ver neles uns burgueses pseudo-progressistas que,  embora vivendo à custa de um sistema, pretendiam impor-lhe  teorias importadas, que não percebiam na totalidade e muito menos nas suas consequências. Apenas ansiavam ter um grande protagonismo e, como por várias vezes constatei, o seu grande amor ao Povo, tão violentamente propagado, limitava-se ao convívio com o seu pequeno grupo.
Casei-me no dia em que fiz 21 anos, tendo ido logo trabalhar para a Alemanha, em condições um pouco melhores do que as dos nossos emigrantes, mas mesmo assim de algum sofrimento pela saudade de todos os que cá ficaram e do Sol que nunca vi enquanto lá estivemos. Serviu no entanto para perceber a riqueza que uma sociedade muito organizada pode gerar, mesmo sem trabalharem muito, como era o caso do sítio onde trabalhámos. Também serviu para aumentar o meu amor a Portugal e consolidar o meu casamento. Apenas durou 4 meses este período na Alemanha, tendo regressado a Portugal para continuar o curso. Fomos vivendo de apoios familiares e de biscates vários, que não davam tempo para vivenciar qualquer vida académica, revolucionária ou não.
Acabei o curso e comecei a trabalhar, pois só fui chamado para a tropa após menos de um ano depois de ter acabado o curso, por razões que nunca cheguei a entender. Profissionalmente tudo correu muito bem e cheguei a ganhar bem. Entretanto tive três filhos.
Vivia-se em Lisboa um clima de grande e quase livre discussão política, apesar do período marcelista ter sido o período da nossa história recente com o maior crescimento da economia. Foi um período importante porque cimentei muitos conceitos políticos e económicos.
Quando tudo estava a correr bem fui chamado para Mafra! Foi um enorme balde de água fria, pois já quase me tinha esquecido dessa possibilidade! E uma revolta também: estava já com três filhos e passava de uma bom nível de vida para não ganhar nada em Mafra.
Ao fim de 3 meses em Mafra (1º ciclo de cadete), soubemos todos as nossas futuras especialidades para onde iriamos. Fui para Comandante de Companhia! Até chorei: em vez de 2 ou 3 anos num quartel da Metrópole, ou em qualquer cidade do Ultramar como alferes, situação que provavelmente me permitiria continuar também a trabalhar em part-time, iria ter garantidamente guerra no mato e uma comissão de quase 5 anos. É evidente que aqui a minha revolta se tornou mais objectiva, mais consistente. No nosso pelotão dos futuros CC tentámos quase todos chumbar (iríamos para Cabo Miliciano), pois assim talvez pudéssemos estar menos tempo na tropa: respondíamos mal nos testes, falhávamos os alvos, gozávamos os oficiais que nos comandavam etc…, enfim fazíamos tudo ao contrário, caindo às vezes em situações engraçadíssimas. Eu até consegui que a minha classificação fosse apenas de 5 valores em 20, mas o Sistema resolveu facilmente o problema: deu a todos mais 6 valores tornando o nosso pelotão aquele que teve a média mais alta de Mafra!
Durante 2º ciclo em Mafra no pelotão dos futuros Comandantes de Companhia, quase todos fervilhavam de revolta, e eu mais ainda porque tinha uma família para sustentar, tendo a minha mulher começado a trabalhar para minorar esse problema. Aí formámos um pequeno grupo de colegas (Miguel Amado, Santos Jorge e Luís Pessoa ) cujo motivo de conversa era essencialmente o estado da nação e o nosso descontentamento. Foi este grupo a génese da minha entrada para o Movimento das Forças Armadas.
Depois deste 2ª ciclo em Mafra, fomos todos para uma zona de combate durante 4 meses: um estágio!  A mim calhou-me uma zona perigosa da Guiné: o Saltinho, numa companhia que já tinha 20 mortos. Fui confrontado com guerra a sério (estive algumas vezes debaixo de fogo!) e com as dramáticas consequências dum colonialismo cego, ao mesmo tempo que ganhei algum sentido de responsabilidade em relação à população colonizada: além de ter comandado um grupo de combate de ex-comandos nativos, tive que dar protecção a uma mulher, a primeira mulher do Cherne Rasshid (o emir islâmico mais respeitado da Guiné) a Mámá Fatmat! Tive muitas oportunidades de conversar com ela e nestas conversas ela, embora iletrada e sem nunca ter saído daquela tabanca, mostrou uma sabedoria de vida que me espantou e admirei profundamente: deixei de ser racista que (como todos os portugueses) julgava nunca ter sido. Também trouxe da Guiné um conhecimento importante: embora contra toda a situação do regime e do seu colonialismo iria ter uma Companhia à minha responsabilidade (180 homens), que teria que preparar o melhor possível para a guerra, para bem da sua salvaguarda.
De volta à Metrópole (ou ao puto como lá se dizia!) fiz um curso para Capitão em Mafra e depois andei uns meses largos a não fazer quase nada por alguns quartéis.
Até que fui chamado a comandar uma Companhia de instrução no quartel de Abrantes, da qual sairiam os soldados da minha futura companhia! Foi um primeiro contacto com um problema grave: a maioria destes soldados era, com o seu trabalho, o sustento de suas casas numa pobre economia agrícola e, enquanto estivessem na tropa ganhariam muito pouco. E sendo eles maioritariamente da Beira Alta e de Trás-os-Montes não tinham a menor hipótese, nem em termos de tempo, nem em termos de dinheiro, de ir a casa passar os fins-de-semana! Acabei por experimentar implementar um esquema de “baldas” que funcionava assim: dividi a companhia em três partes iguais e cada um desses três terços iam a casa, rotativamente de três em três semanas, passar um fim-de-semana de 5/6 dias, sendo a instrução muito mais intensa para compensar. Nunca percebi como é que tudo correu tão bem e eu nunca fui preso. E não contava com o apoio ou conivência de ninguém dentro do quartel para além, obviamente, de todos os graduados e soldados da minha companhia.
Quando acabou a 1ª fase da instrução, juntaram-se os especialistas e formou-se a minha companhia – a companhia independente C. Caç. 4246 – a quem ainda demos instrução em Abrantes e depois fomos para S. Margarida fazer o chamado IPO, que era a instrução operacional definitiva, de onde saímos para o 25 de Abril.
A REVOLUÇÃO:
Este período em Sta. Margarida foi riquíssimo em convívio e troca de impressões entre todos os soldados, mas sobretudo com os graduados, sobre a política em Portugal. Naturalmente como ali ninguém estava de boa vontade, depois do medo e hesitação inicial, a comunicação correu fácil e solta. Entretanto começaram reuniões com outros militares, em que de St. Margarida ia o Luís Pessoa e eu (mais ele que eu, que já tinha 3 filhos e preferia ir a casa), que tomaram um sentido crescentemente conspirativo até chegar ao ponto de ser aprovado a vontade de fazer a Revolução. Tínhamo-nos comprometido! Éramos revolucionários! Esta consciência de que nos tínhamos comprometido numa potencial revolução foi acontecendo ao longo de Março/Abril, mas a confirmação de que iríamos fazer um golpe de Estado foi apenas pelo dia 15/18 de Abril. Curiosamente, o golpe falhado das Caldas em 16 de Março em vez de desanimar até entusiasmou, pois foi sentido como um golpe muito sectorial (spinolistas apenas) e por isso muito pouco abrangente, tendo sido por isso que falhou, mas serviu para mostrar que o Regime estava fraco! Se muitas vezes senti medo sobretudo pela minha família, também é verdade que se vivia um clima de algum inebriamento e, já perto da data, soube que um dos organizadores era o meu cunhado, o major Sanches Osório, o que muito me reconfortou, pois conhecia-o bem e sabia-o pessoa de bem.
Naturalmente que esta última semana antes do 25 de Abril foi de preparação do golpe e de nós próprios. Embora nunca tenha tido consciência de ter manipulado os meus soldados, contava desafia-los para vir comigo, esperando que alguns deles assim o quisessem fazer e que os restantes se mantivessem calados e portanto é natural que também nesta semana tivesse intensificado as discussões politicas na Companhia.
Entretanto o Pessoa foi a uma reunião onde lhe confirmaram que a data mais provável seria o dia 25 de Abril, a pré-confirmar pela emissão de uma canção popular ”E depois do adeus” cantada pelo Paulo de Carvalho nos Emissores Associados de Lisboa pelas 23h do dia 24 de Abril. Se essa canção fosse para o ar deveríamos preparar tudo para começar a Revolução, cujo início seria marcado pela agora famosíssima canção do Zeca Afonso “Grândola, vila morena”. Ainda hoje fico emocionado quando a ouço! Era uma canção proibida pela Censura e que sendo emitida pela Rádio Renascença pouco depois da meia noite confirmaria que a Revolução não tinha sido abortada e portanto arrancaríamos. A nossa ordem de marcha foi ocupar a ponte de Vila Franca, para impedir o Regime de a tomar e ao mesmo tempo impedir os tanques de Santarém de chegar a Lisboa, caso eles não passassem para o nosso lado. A companhia do Pessoa (ou os soldados que ele conseguisse convencer) iria tomar os emissores do Porto Alto, centro de retransmissão, que estando nas nossa mãos impediriam o Regime de falar pela Rádio para Portugal inteiro. Confesso que senti uma pontinha de inveja com a missão aparentemente tão fácil que lhe tinha cabido comparada com a nossa: enfrentar os tanques?!Também fiquei a saber o nosso código rádio para falar com o nosso Comando na Pontinha: Charlie 18. Fomos também avisados que as forças da GNR não estavam do nosso lado, pressupondo-se que permaneceriam fiéis ao Regime e que poderiam opor-se à nossa marcha para Lisboa.
Durante todo o dia 24 os nervos foram imensos! Aproveitei para me informar como poderia roubar as viaturas, rádios, munições e armas, pois todos estes equipamentos, depois de cada dia de instrução eram entregues nos respectivos paióis e armazéns. Nada ficava na nossa posse: consegui sonegar uma pistola- era todo o armamento que eu tinha para fazer uma Revolução! Verifiquei com enorme apreensão que embora existissem bazucas em Sta. Margarida não havia munições para elas. E as bazucas eram as únicas armas que eu conhecia capazes de parar um tanque! Se de facto tivéssemos que abrir fogo contra os tanques, melhor seria que o fizéssemos com fisgas, pois assim talvez os tanques se rissem de nós e não dizimassem o meu pessoal. O Pessoa disse-me (talvez só para me descansar) que nos iríamos encontrar na Ponte da Golegã com uma coluna, que viria da Engenharia de Tancos e que levaria muita munição para nós.
Quando ouvi o “E depois do adeus” chamei os graduados (que já dormiam) para lhes dizer que iríamos ter uma instrução nocturna pouco depois da meia-noite e que portanto avisassem os seus soldados para estarem prontos pela meia-noite junto a uma caserna. Colei o meu ouvido à telefonia com crescente nervosismo, até que pela meia-noite e vinte lá apareceu o Grândola! Fiquei gelado: era agora, já não haveria retorno possível! Mas, como sempre acontece em momentos de acção, passou-me o nervosismo: sabia o que tinha que fazer!
Dirigi-me ao local onde os soldados e graduados me esperavam e falei-lhes explicando-lhes que para mim tinha chegado a hora de me levantar contra este Regime e que iria para Lisboa entrar numa Revolução! Quem quereria juntar-se a mim, avisando que poderia ser uma semana complicada? Esperava que pelo menos uma dúzia se me juntassem, mas aconteceu uma coisa inacreditável: todos deram um passo em frente! A emoção tomou conta de mim, mas ao mesmo tempo um medo enorme: para onde estava eu a arrastar todos estes jovens? Graças a Deus estava escuro e eles não puderam ver bem a minha cara! O único que não foi connosco foi o 1º Sargento Pinto, porque achei que sendo ele profissional eu não tinha o direito de lhe dar cabo da carreira, caso a Revolução não vingasse. Tenho a impressão que nunca me perdoou eu não o ter chamado.
Não havia tempo para grandes dúvidas: fui ao parque das viaturas e disse ao soldado que vinha levantar viaturas para uma instrução nocturna. Ele não acreditou, porque não tinha ordem nenhuma nesse sentido: onde estava a minha autorização? Mostrei-lhe a minha pistola e ele considerou que seria uma autorização suficiente! As viaturas capazes de sair eram muito poucas e por isso lá fomos 120 pessoas penduradas em meia dúzia de viaturas arrombar os paióis e armazéns de onde tirámos as G3, granadas, rádios, rações de combate, etc…
Lá arrancámos para Lisboa, já seriam uma duas e meia da manhã, sem grandes incidentes, até à Ponte da Golegã, onde nos encontraríamos com a Grande Força da Engenharia cheia de oficiais superiores, soldados a valer e sobretudo: muitas armas e munições antitanque! Todos estes sonhos nos deram algum descanso! E de facto começámos a vislumbrar uma longa procissão de faróis ao longo da ponte, talvez umas 40 viaturas: eram eles! Estávamos safos!
Quando pararam ao nosso lado eu não queria acreditar: as Berliets vinham quase vazias de pessoal (ao todo seriam talvez uns 20) e quanto às tais munições antitanque, nada! Apenas tinham trazido bastantes cunhetes de munição para G3, da qual já tínhamos bastante.
Não havia tempo para lamentações e eu não queria que os soldados sentissem a fraca organização em que estávamos envolvidos. Lá seguimos para Vila Franca. Pelo caminho os GNR não nos hostilizaram, pelo contrário, os poucos que vimos ajudaram a nossa marcha regulando o pouco trânsito que havia àquela hora.
Chegámos à portagem da Ponte de Vila Franca ao alvorecer.
O dispositivo foi montado, tendo em conta que não tinhas mais para opor aos tanques do G3. Entretanto achei melhor acabar com as portagens, para evitar algum eventual engarrafamento. Detectámos um oficial superior da aviação dentro de um VW: era o comandante da base do Montijo (salvo erro…) e que decidi que ficasse ali “preso”, sobretudo incomunicável, o que suportou com razoável bonomia: julgo que já teria sabido de qualquer coisa, pois não ficou nada preocupado.
Pelas 10h fui contactado, via rádio, que o movimento praticamente não estava a ter oposição e que algumas unidades mais já tinham passado para o nosso lado, incluindo os tanques de Santarém. Uf! Que alívio!
Devo dizer que embora a portagem da ponte de VFX não fosse zona própria para piões, começaram a aparecer algumas dezenas de civis, que queriam saber o que estávamos ali a fazer, e que depois de se lhes ter sido dito que era uma revolução para derrubar o regime, o seu apoio foi bastante generalizado e inequívoco, embora ainda com algum temor.
Pelas 11h recebemos ordem para irmos ocupar o Aeroporto, pois a EPI de Mafra não teria efectivos capazes de o fazer em condições. Assim fizemos, juntámos o pessoal todo e arrancámos em direcção a Lisboa.
À entrada em Lisboa, junto ao actual Ralis (naquela altura a auto-estrada não estava tão rebaixada, nem existiam aqueles viadutos e o Ralis dava directamente para o fim da auto-estrada) estava montada uma barricada para nos impedir de passar! Não fiquei muito preocupado apesar de ser um obstáculo inesperado (o Comando tinha-nos dito que não sabia de nenhum impedimento na marcha para Lisboa), o que é facto é que a forma como a barragem estava montada era completamente inútil para impedir uma coluna com a dimensão da nossa: 20 a 30 militares armados de G3 com duas viaturas atravessadas nas duas faixas, as quais nem sequer tapavam completamente a nossa passagem. Era um proforma de quem estava a cumprir alguma ordem, que não lhe apetecia nada seguir: era uma barricada para fingir que se tinha feito alguma coisa. Os meus soldados que iam comigo na viatura mostraram as armas com prontidão, enquanto que os militares da barragem nem nos apontaram as suas armas.
Dirigiu-se-me um aspirante que, suponho, estaria a comandar aquele grupo de militares e estabeleceu-se o seguinte diálogo:
Tenho ordens para não deixar passar – disse ele
E eu tenho ordens para passar! – disse eu
Não serei eu que o vou impedir – disse o aspirante em voz um pouco mais baixa.
No entanto, embora tudo aquilo me parecesse um faz-de-conta, achei que haveria mais do que aquela força e não queria arriscar arrancar e, de dentro do quartel e bem melhor protegidos do que aqueles militares em pé ali na rua, alguém começasse a fazer fogo. Dirigi-me ao aspirante:
Recebes ordens de quem?
Do meu Coronel.
E onde está ele?
Está ali junto ao muro do quartel do lado de dentro.
Então vamos falar com ele! – disse eu.
Lá fomos os dois a pé, com 5 ou 6 dos meus soldados, até ao muro e o tal comandante estava dentro duma guarita. Só lhe via os olhos! Tive a sensação de estar a falar com alguém entalado dentro de um marco do correio! Com ele tive esta conversa:
Então meu coronel, o que se passa?
Tenho ordens para não deixar ninguém passar para Lisboa e portanto não pode passar!
E eu tenho ordens para passar e vou passar!
Mas tem ordens de quem?
Do Comando da Revolução!
Ele calou-se um pouco e disse qualquer coisa do tipo: não recebi instruções para este caso.
Eu disse-lhe: meu Coronel, vou passar a bem ou a mal e, se preza os seus soldados que estão naquela barragem, é melhor dizer-lhes para se afastarem, e voltei-lhe as costas, tentando aparentar uma calma que estava longe de sentir.
O aspirante que voltou comigo estava todo entusiasmado. Disse-lhe só para afastar um pouco as suas viaturas para nós podermos passar, o que fez prontamente, e nós seguimos para o Aeroporto. Este episódio, nessa mesma altura, fez-me sentir que o Regime estava podre e que ninguém se iria opor decididamente à nossa revolução. Pelo que fiquei bem mais descansado!
Chegados ao Aeroporto, já lá estavam alguns militares (uma dúzia?), que ficaram visivelmente muito aliviados quando viram chegar a minha Companhia. De facto eramos uma força considerável – bem mais de 100 militares – o que permitiria montar um perímetro de segurança às pistas, torre de controlo e edifícios. A pequena força que lá encontrámos, sendo poucos, tinha armamento bem melhor que o nosso: entre outros, dois canhões sem recuo e com munições!
Pouco tempo depois o oficial (da EPI?) que estava na torre de controlo veio avisar-me que se estavam a aproximar 2 aviões vindos de Tancos, provavelmente cheios de paraquedistas, os quais ainda não se sabia de que lado estariam. Fiquei muito preocupado: se os aviões estivessem cheios, teriam o dobro dos nossos efectivos e com um treino operacional muito superior ao nosso. Se os deixasse aterrar estávamos vencidos, com um número de mortos certamente elevado! Só vi uma hipótese: colocar os canhões no alinhamento da pista e fazer explodir os aviões ainda em fase de aterragem. Enquanto estava discutindo esta hipótese com o tal oficial, chegou a notícia, logo depois confirmada pelo Comando, que eles estavam do nosso lado. Graças a Deus! Lá aterraram e apareceram umas viaturas que os levaram. Quando o seu Comandante me cumprimentou eu até corei só de lembrar o que lhe estava a preparar, do que julgo que ele nunca teve conhecimento.
Permanecemos no Aeroporto, julgo eu, todo o resto do dia 25, como o 26 e até o 27. Foi aqui que fomos tendo notícias do desenrolar dos acontecimentos: prisão do Américo Tomaz e rendição do Marcelo Caetano ao Spínola. O aparecimento do General Spínola neste episódio foi-me muito surpreendente, pois sabia que não só o MFA não pretendia ser liderado por ele, como ele não se tinha mostrado muito interessado. Só mais tarde é que vim a saber da história da rendição do Marcelo no quartel do Carmo.
Durante estes dias em que estivemos no Aeroporto muita gente veio festejar, gritar pela Revolução. Enfim a Revolução estava claramente ganha, o Regime tinha caído e a alegria tinha tomado conta dos portugueses. Posso dizer que julgo que nunca comemos tão bem na tropa como enquanto aqui estivemos, tantos eram os presentes e apoios que recebemos. Lembro-me que os festejos terão tomado uma dimensão talvez exagerada, que temi perder o controlo da Companhia. Mas enfim nesta fase a prontidão militar já não seria tão prioritária e os meus rapazes, depois de tanta tensão pelo que passaram, bem mereciam alguma recompensa. Como se a glorificação de todos os populares que ali foram fosse pouco, soube posteriormente que algumas senhoras entusiasmadíssimas, também decidiram festejar com alguns dos meus soldados de modo bastante mais íntimo. E viva a Revolução!
E depois?
Tenho agora, passados 40 anos, dificuldade em me lembrar como se passaram os dois dias seguintes até ao dia 1 de Maio. Lembro-me de que fomos para o quartel da Pontinha, onde ficámos aquartelados e pouco mais me lembro.
Lembro-me de ter encontrado o meu cunhado, o Sanches Osório, e caímos nos braços um do outro contentes por nos vermos do mesmo lado e vitoriosos!
Lembro-me de ter ido a minha casa (os alferes  Martins e Fernandes também me acompanharam) para dar um grande beijo de alívio e vitória à Isabel e outro aos filhos. Ela ficou horrorizada, porque deixámos as metralhadoras que trazíamos na cadeira da entrada, como quem larga a gabardine. E de facto com 3 filhos de 4 a 7 anos, poderia ter acontecido alguma tragédia. Mas com o nosso entusiamo e porque aquelas ferramentas já se tinham tornado parte de nós, facilmente esquecemos as mais elementares regras de segurança.
Cabe aqui uma pequena referência à minha Grande mulher da minha vida: a Isabel, sempre me apoiou, apesar do medo que sofreu pela nossa família. E de facto o irmão da minha sogra, foi preso por engano pelo COPCON e acabou por morrer por falta de assistência médica na prisão, em Dezembro desse ano.
A Companhia recebeu a ordem para controlar a zona da Baixa, no dia 1 de Maio, pois ali – sobretudo no Rossio - se iriam verificar as maiores manifestações e prováveis tumultos. Ainda estávamos numa cultura que nos dizia que se o povo fosse deixado à solta seriam inevitáveis grandes problemas de ordem pública.
Nenhum de nós tinha qualquer experiência policial para este género de eventos: qual seria a melhor táctica? Como evitar abusos (assaltos a lojas, carteiristas, etc…) com tão poucos soldados?!
Optámos por nos dividirmos em vários grupos: um para cada canto do Rossio, mais dois ao longo dos lados e os restantes (onde eu fiquei) no centro do Rossio, na base da estátua do D. Pedro IV. Naturalmente que foi um dia agitado, um bocado de nervos pois o Rossio estava completamente cheio de pessoas (não sei quantas dezenas de milhares de pessoas seriam, mas estava completamente lotado!). Apesar de todos os receios, tudo correu lindamente e na maior ordem. Foi fantástico!
Recordo-me de alguns episódios engraçados desse longo dia de festa da Democracia: talvez o primeiro grande festejo em Democracia. Uma passagem divertida foi a descida da Av. da Liberdade para chegarmos ao Rossio, pois estava tudo entupido com automóveis que não conseguiam passar no Rossio: um engarrafamento louco; disse ao condutor para ir para cima do passeio e assim descemos a avenida sem tocar no alcatrão. Grandes vivas dos cidadãos presentes e os meus soldados entusiasmadíssimos - não só pelo momento de glória, mas por estarmos a fazer uma coisa extraordinariamente proibida: andar de carro por cima dos passeios. A segunda coisa de que me lembro foi de um senhor já com alguma idade de boina (vim depois a saber que era o Raul Rego) que veio ter comigo quando já estávamos no meio do Rossio, muitíssimo comovido, agarrou-se a mim a chorar a dizer: obrigado, obrigado, obrigado… durante uma boa meia hora, intercalando com muitos ”viva a República!”. Na altura não percebi o alcance destes “vivas!”, pois para mim a República era apenas um Regime não monárquico, que em Portugal tinha oportunisticamente ganho o poder através de um regicídio e que pela sua incapacidade tinha gerado as condições para que a ditadura tivesse depois vindo a ganhar o poder; mas para ele e para muitos da sua geração seria um sinónimo de democracia. Outra situação curiosa foi a de alguns jovens que gritavam alguns slogans, mas ninguém os ouvia, propus-lhes que viessem para o pé de mim (estava num ponto alto do pedestal da estátua) e emprestei-lhes o meu megafone, que na altura já era desnecessário: passaram de um certo temor para uma enorme alegria e aumentaram a produção, já de si grande, de slogans e vivas – eles eram o futuro MRPP que, embora de extrema-esquerda, foram os únicos que se opuseram á loucura gonçalvista no seu início.
Depois deste dia de entusiasmo fomos mandados para casa e/ou para o quartel e, o Pessoa e eu fomos para S. Margarida para pormos em ordem a região militar Centro: eufemística forma de dizer que deveríamos “limpar” os quadros militares dos que não eram afectos ao Movimento. No início não percebi completamente o que andaria eu ali a fazer, mas o Pessoa sim, estava muito à vontade naquele papel. Como eu pensava que a Revolução estava já ganha e consolidada não vi razão para sanear ninguém que tivesse um mínimo de competência, só porque não tinha apoiado objectiva e claramente a Revolução. Por este critério ter-se-ia que sanear a maioria da população, que de facto nos apoiou entusiasticamente no dia 26, mas que antes de 24, por medo ou comodismo, se manteve complacente com o Regime. Opus-me portanto ao saneamento de muitos dos oficiais superiores da região Centro (dentro deles o seu comandante – Morais?), só tendo concordado com um caso de um coronel alcoólico que passou à reserva. Por isto fui mandado para casa e depois, nós todos fomos para Angola, cumprir a nossa comissão.
Não me alongarei neste memorial dos meus sentimentos nesta época tão rica de acontecimentos, pois já vai muito longa, pese embora que faria sentido um relato sucinto da ida e estadia da nossa Companhia em Angola, pois está cheia de acontecimentos ligados e consequentes com a Revolução. Destes acontecimentos só confesso que foi para mim uma honra e uma riqueza enorme ter sido o Capitão da C. Caç 4246, durante a Revolução do 25 de Abril e depois, durante a nossa comissão em Angola.
Tudo o que relatei terá falhas importantes e até erros, só desculpáveis pelos 40 anos já passados. Deles peço desculpa e um bem hajam pelo que fizeram comigo e apesar de mim.
Gostava de ter braços suficientemente longos para vos abraçar a todos!
                Christian Bastos Andersen - Cap.Mil.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Entrevista a José Mendes

Entrevista que conduzi na passada segunda-feira, no programa Panorama Desportivo, da RCB - Rádio Cova da Beira, que edito e apresento, das 21 às 23 horas.

JJR-A época desportiva esta a decorrer dentro dos planos traçados pela sua direcção ?

JM- Se estou satisfeito? Muito satisfeito. Esta a ser uma época tranquila, uma época que foi programada a tempo e horas, delineada pelo presidente, pelo mister e pelos adjuntos, portanto, super satisfeito co o desenrolar dos acontecimentos, durante esta época, sem dúvida.


JJR- Uma das apostas da sua direcção, durante algumas épocas foi trazer jogadores emprestados de outros clubes, curiosamente fala-se que terá chegado hoje um atleta emprestado pelo V. Setúbal. Abandonou esta aposta porquê ?

JM- Para já quero dizer-lhe que não vem nenhum jogador emprestado do V. Setúbal. Janissio é um jogador livre, estava no Chipre e assinou esta tarde contrato com o SCC. Em relação á situação que me coloca: Devo lembrar que quando entrei para a SCC; há 10 anos, faz dia 21 de Setembro 10 anos, o SCC estava mergulhado em dividas, muitas dividas. Tinha que se arranjar uma estratégia para se pagar essas dividas, visto que o clube também não tinha receitas. A estratégia que na altura me ocorreu, em boa hora, foi junto de colegas presidentes de clubes, meus conhecidos, que tinha na 1ª liga, optar por esses clubes nos emprestaram jogadores,  a custo zero, para podermos andar nos campeonato profissionais e poder regularizar as dividas que o clube tinha, como era do conhecimento geral. Portanto, essa foi a estratégia e acho que não havia outra maneira de resolver o problema, porque o Presidente do SCC não é mecenas, ninguém é mecenas, não andam ali a por dinheiro no clube a torto e a direito e portanto, foi essa a estratégia que na altura vi como a melhor para resolver os problemas financeiros do clube.

A partir do momento que passamos a ter o problema financeiro do clube orientado, decidimos, e  muito bem, deixar de ter jogadores emprestados e passarmos a ter os nossos próprios jogadores. Começamos por fazer uma prospeção nos campeonatos secundários e, para todos os efeitos, este é o melhor campeonato que nós fizemos e com custos mais reduzidos.

Quando os atletas eram emprestados, não haja duvidas, não conseguíamos vender nenhum, as coisas mudaram, a estratégia mudou derivado a isso, simplesmente.

JJR- As saídas dos jogadores Paulico, Apollo, para o Estreito e Joca para a Atalaia enquadram-se em algum processo evolutivo dos atletas. Eles vão regressar ?

JM- O mister, juntamente com a direcçao, achamos que o melhor era ( nenhum está na condição de emprestado porque o empréstimos obrigam que o clube continue a suportar todos os encargos e o SCC não tem dinheiro para isso) rodarem. O Jota é o primeiro ano de sénior e achamos que rodal na Atalaia seria bom para o atleta. Embora o Jota tenha rescindido, ficou o compromisso de se apresentar no inicio da próxima época para voltar a trabalhar no clube. O Apollo, idem aspas aspas, mas o Paulico deixou de pertencer aos quadros do SCC e passou a ser um jogador livre. Já lhe foram dadas oportunidades bastantes, que não soube aproveitar. Rescindiu para seguir a vida dele, no entanto, o mister, se assim o entender, poderá dar-lhe mais uma oportunidade, mas não há compromisso nenhum. Duvido que tal possa acontecer, ddas as muitas oportunidades que lhe foram dadas.

JJR- Desde o inicio da época já sairam do clube o Néné, Japa, Lucas, os três jovens e também o Tiago Lopes. O Sporting ganhou algum dinheiro com a saida deste atleta para a Roménia ?

JM- Ganhou. Querem saber os milhões que rendeu ? Vão às assembleias gerais que a gente lá explica e dizemos tudo o que temos para dizer. Como deve compreender não é de bom tom virmos para a praça pública dizer o que o atleta rendeu ou deixou de render, o que é verdade é que o atleta ganhava 750,00 €, isto é que é verdade. Faleceu-lhe o pai em Outubro e atendendo a parte humana, acho que não devíamos cortar as pernas ao Tiago Lopes. Portou-se muito bem enquanto esteve no clube, chegou ao SCC por causa da lesão de Diogo Gaspar, portanto, entendemos que era um bom negócio para o SCC e para o atleta e faz-se a transferência e, ao contrario do que muita gente possa pensar o SCC foi ressarcido com uma verba, que, não sendo de milhões, nem sendo de muito dinheiro, derivado à crise que atravessamos, o SCC fez o que devia, até por que era um atleta que sabíamos que iriamos ficar sem ele, no final da época, quando acabasse o contrato, porque já conhecia o interesse dos romenos do Cluj, para onde acabou por ir.

JJR- Até ao final deste mês o mercado esta aberto, vai haver mais sáidas. Fala-se que Forbes, Báta, Kakuba e Gui têm clubes interessados, se assim for, em que condições é que os vai deixar sair ?

JM- Que eu saiba não chegou nenhuma proposta ao SCC a manifestar interesse nesses atletas, mas não tenham duvidas, se aparecer, e devido `situação do clube, estaremos dispostos a negociar com quem nos fizer alguma proposta.


JJR- O Sporting só tem um guarda-redes disponivel, desde a lesão de Taborda. É certo que Taborda está em franca recuperação, estando prevista o seu regresso em Fevereiro. Vai esperar pelo regresso de Taborda ou vai contratar um guarda-redes?

JM- Não. Neste momento está um atleta do Irão, Haghighi, que já está a treinar com o plantel. É um guarda-redes de seleção, que quer estar no mundial e que quer muito jogar no SCC para poder vir a ser selecionado. Estamos a tentar inscreve-lo mas é um processo complicado porque o jogador estava a jogar no Irão, emprestado pelo Rubin Kazan da Rússia. Há um emissário da Covilhã que partiu na 6ª feira para o Irão e depois seguia para Rússia e volta, se calhar, com os documentos em mão. Como sabe, dia 31, sexta-feira, até às 24 horas, temos que fazer a inscrição do atleta. Portanto, estamos a todo o momento prontos para o inscrever, desde que chegue a cedência. É uma cedência porque não temos, nem de longe nem de perto, argumentos financeiros, para contratar um jogador destes, um jogador de seleção.


JJR- Haghighi pode vir a ficar no plantel, juntamente com Igor, Taborda e Daniel Fonseca ?

JM- Não. O Daniel está posto de parte porque não quis estar com os séniores, por isso, não entra no grupo e guarda-redes. O Taborda está a recuperar muito bem, excelente recuperação, temos que louvar o trabalho do fisioterapeuta Carlos Alberto, que tem sido incansável, também com o Diogo Gaspar, que está muito adiantado em relação ao tempo que se previa de paragem.

Na questão do guarda-redes, porque já tivemos tempo bastante para chegar a esta altura com o problema resolvido e, como deve imaginar, com o mister a lembrar-me que podemos ter algum problema com o Igor, mas corremos esse risco, de forma consertada, entre presidente e técnico e até ver as coisas têm corrido bem. Não será por mais um dia ou dois que vamos fazer as coisas de outra maneira.


JJR- Neste mercado de inverno já ingressaram no clube o Quizito, Amian, Agostinho Soares e agora o Janissio, está previsto vir mais alguém ?

JM- Não. Neste momento e ao contrário do que os sócios apregoavam há uns tempos atrás, quando se entrou neste mês de Janeiro, que é diabólico ( nunca passei um mês de Janeiro tão diabólico como este). Falava-se muito no interesse deste ou daquele, mas a verdade é que estes atletas entraram porque no banco só tínhamos jovens e o SCC para continuar a competir, - já fez ontem 37 jogos, mais do que um campeonato do antigamente – achamos por bem e com a possibilidade de um ou outro atleta serem em conta, em termos financeiros, juntamente com o mister, adquire esses atletas para reforçar o plantel e, já que estamos a lutar por uma subida de divisão, até esta data temos estado nos lugares cimeiros, por que não piscar o olho, sem estar, em termos financeiros, a gastar mais do que estávamos a gastar até à data !


JJR- O outro iraniano e Pedro Fonseca, que estão à experiencia, são para ficar?

JM- O Iraniano já assinou esta tarde e o Pedro Fonseca, embora tenha treinado com o plantel, não vai ser opção.


JJR- A Taça da Liga é uma competição com maior interesse desportivo ou finaceiro ? Quanto é que rendeu a presença do clube nesta competição ?

JM- Penso que a nível financeiro também é interessante e a nível desportivo, temos oportunidade de competir e mostrar os nossos jogadores. Na 3ª fase começamos por ser infelizes, perdemos o jogo já nos descontos, num livre que não existiu, ficamos sem um jogador, expulso, sem que se perceba porquê e esse jogo era o mais importante. O mister optou e muito bem, em rodar jogadores que tinham menos minutos e alguns deles, das nossas camadas jovens, como foi o caso do Samuel, teve oportunidade de fazer dois jogos a titular, que serviu para ele poder crescer.


JJR- Com a passagem à 3ª fase falou que iam entrar muitos milhões no clube, que o clube iria ficar rico.

JM- Nada disso é verdade. Neste momento a Liga tem muitas dificuldades mas para as pessoas ficarem tranquilas, o SCC recebeu 30 mil euros da passagem à 3ª fase, nada dos 100 mil euros que se falava por ai. Portanto, quando quiserem ver as contas do SCC lá estará o recibo com o 30 mil euros. O Clube não recebe mais dinheiro visto não dado nenhum dos seus jogos na televisão. Se tivesse dado algum jogo na TV a receita é regateada no final da Taça da Liga, conforme o numero de jogos televisionados. Nós até nisso somos pobres. O interior paga-se e paga-se bem. Ainda ontem tivemos um jogo em que o adversário do SCC, o Rio Ave, disputava a passagem às meias finais, como veio a acontecer, mas o jogo que foi transmitido foi entre dois clubes, o Beira Mar e Estoril, que já nada tinham para decidir, portanto, é à beira-mar… Nós estamos no interior, está muita neve, muito frio e então as pessoas ficam chateadas de vir à Covilhã e isso retira-nos receitas com que estávamos a contar.


JJR- Outra das grandes apostas da sua direção era o regresso dos jogos da equipa de honra ao Santos Pinto. Quais são os verdadeiros  problemas para que essa aposta se concretize?

JM- Inicialmente estava muito entusiasmado em levar a equipa para o Santos Pinto, por que entendíamos, nestes anos todos, que a perder como perdíamos, seria do relvado do Complexo Desportivo ou de estar o público muito longe. Neste momento ganhamos, estamos longe do público e portanto não tem a ver com isso. Mas queremos ir para o Santos Pinto. Há uma série de problemas que tem contribuído para ainda não estarmos lá. Tem sido uma luta titânica, todos os  dias tenho barafustado com a Liga e o IPDJ. Não são grandes problemas, mas o Estádio José Santos Pinto tem problemas que já vêm de 1996. Com calma tudo havemos de resolver e vamos jogar e vamo-nos mudar para o Santos Pinto, mas também quero dizer: não estou muito preocupado neste momento, até porque tenho falado com o mister e ele também não está preocupado em mudar para lá, até porque perdemos lá com o Leixões, e com este tempo de chuva, as bancadas do Complexo Desportivo oferecem mais conforto aos sócios do que o Santos Pinto. Quando o tempo estiver melhor até vai ser mais agradável jogar lá


JJR-  Uma das bandeiras da sua direção é a formação. O clube tem todos os escalões de fornação mas em rigor o aproveitamento tem sido diminuto. Esta realidade deve-se a quê: Falta de qualidade ou uma menor aposta dos responsáveis técnicos no lançamento de jovens ?

JM- Não concordo quando diz que não temos aproveitamento das camadas de jovens. Clubes como o Benfica, Porto e mesmo o Sporting, embora se possa por de parte o Sporting atual, não vejo que tenham feito um grande aproveitamento dos seus escalões de formação e eles gastam milhões. Nós gastamos muito com a formação. Gastamos entre 150 a 200 mil euros época, num ano um pouco mais porque tivemos duas equipas nos nacionais. As infraestruturas são as que temos. Neste momento temos o complexo Desportivo e é lá que trabalhamos. Eu estive nas camadas jovens do FC Porto e os jogadores, mesmo os juvenis, trabalhavam num campo pelado que tinha pedras a torto e a direito e não era por isso que não saiam de lá grandes jogadores. As condições são as que temos, as que a Câmara nos disponibiliza e já é muito. Só temos é que trabalhar, só temos é que lutar e quando os senhores dizem que não temos aproveitamento não é verdade. O Lucas é júnior e está no plantel principal, o Samuel, o Gui, um jogador de qualidade, de 21 anos, o nosso tesouro, veio com 18 anos, jogava nos juniores e treinava com a equipa de séniores. É um ativo muito valioso do SCC.. Não temos é culpa que os treinadores olhem para eles de lado e não os ponham a jogar.


JJR-  Esta questão da formação leva-nos para outra realidade, tão ou mais importante que a anterior: a falta de apoios.  Disse recentemente que o futebol profissional era auto-suficiente mas que o clube não era só futebol profissional e era para essa variável que necessitava de apoios. Que apoios necessita e de onde podiam vir esses apoios ?

JM- Como os apoios na Covilhã são poucos, mas não é de agora. Quando disse essas coisas foi para alertar consciências. Às vezes é necessário dizer algumas baboseiras para ver se as pessoas levantam a cabeça e se se lembram  que não tem que ser só o presidente e a direção a trabalhar em determinadas situações. O SCC continua tranquilo da vida, mas claro que necessitamos de apoios, mas quem não necessita de apoios? Necessitamos dar melhores condições aos atletas. Neste distrito ainda está para nascer quem me ensine o que é preciso para a formação de um clube. Eu sei o que quero para o meu clube, não tenho é condições financeiras para por o clube a funcionar como eu gostaria, tenho que me cingir ao que tenho, a nível humano, é muito. O SCC deve ser o único clube deste distrito que não paga um cêntimo aos técnicos das camadas de formação. Trabalhamos com pessoas que nós gostamos e que também gostam de nós e do clube e que nos vêm ajudar sem receberem nada em troca. Mas pagamos inscrições, na Associação de Futebol não devemos um tostão, pagamos almoços e pagamos transportes, tudo isto para movimentar duzentos e tal jovens que praticam futebol no SCC. Para isso necessitamos de apoios, porque tiramos estes jovens da droga, dos fumos e de outras coisas más. Enquanto ali estão são os dirigentes do SCC que tomam conta deles e fazem as vezes dos pais. Gostaria muito de ter dois ou três campos de futebol, não com relva sintética, mas com relva natural, gostava de ter bons técnicos e bons fisioterapeutas, gostava de ter melhores condições para poder oferecer a esta gente, mas isso não me i garantir que passasse a ter melhor aproveitamento. O mister esta aqui que não me deixa mentir. Temos ido ver alguns jogos dos jovens e há sempre um ou outro que sobressai no meio daquela rapaziada todo. Há um ou outro miúdo sobre quem temos falado, que queremos que venham para os séniores, mas isso depende também deles.

Como presidente, tenho lutado muito para ter jovens da formação, mas nem sempre os técnicos olham para esta questão, que não é o caso de Chaló. Dou-lhe um exemplo. O Diogo Gaspar está desde pequenino no SCC e está há três anos com a equipa sénior. Não jogou um único minuto. Como se impunha, na preparação do plantel para esta época questionei o mister se Diogo Gaspar era para mandar embora. A resposta foi esta: presidente, assine com o Diogo porque na próxima época vai ser o nosso lateral direito.  O Diogo, antes de se lesionar estava a fazer uma época fantástica e mesmo estando lesionado, vamos assinar brevemente novo contrato, porque temos treinador que sabe ver quem tem valor. Nem ele sabe, nem nunca lhe disse isto, vai saber pela Rádio Cova da Beira em primeira mão. Mais dia menos dias, esta ou na próxima semana vai assinar, a menos que ele não queira. Tem aqui um exemplo, mas podia dar N exemplos e digo mais, o mister não olha  nomes e veja que fomos buscar o Báta ao Alcanenense, alguém já tinha ouvido falar do Bata. O Forbes já estava perdido para o futebol, já andava pelos Açores, não é menosprezar os Açores, mas é porque já não tinha clubes do continente interessados nos seus serviços e outros que ninguém conhecia. Só temos que louvar quem os foi buscar.


JJR-  Como estão as relações com a Câmara Municipal?

JM- Excelentes. Ainda não foi possível falar com o presidente mas temos falado com pessoas que estão na câmara, que nos têm apoiado naquilo que podem. Em termos financeiros ainda não tivemos essa conversa mas nós percebemos que quando a tivermos, de certeza absoluta que a câmara vai fazer o que lhe compete, que é ajudar o SCC com uma verba para a formação e nós queremos apenas para a formação, mas quero dizer-lhe que a Câmara tem disponibilizado tudo o que temos pedido. Tem sido um comportamento exemplar.


JJR- Com o anterior executivo começou por haver uma verba mensal, passou para protocolos com 50% de uma determinada verba e a restante com avales, através de cartas de conforto, para a contração de empréstimos…

JM- As cartas de conforto no SCC nunca pegaram, por isso nunca houve empréstimos, independentemente de inventarem o que inventaram. Dava-lhes jeito. So sei dizer que desses tempos o SCC no mínimo tem a receber 245 mil euros. 90 mil de um protocolo que nunca chegou ao SCC, de 180 mil euros, assinados só chegou metade, outro de 150 mil euros, só lá chegaram 75 mil e devem também 80 mil euros dos torniquetes e da videovigilância que está no Complexo Desportivo. Eu com esse dinheiro fazia uma grande festa e resolvia alguns problemas que o SCC tem tido. Essa é a verdade nua e crua. Arranjar malabarismos, depois assinal protocolos para dizer que não paga … Mas o SCC não morre. O SCC tem pessoas competentes. Quem estava à espera de cortar as pernas do presidente ou da direção do SCC enganou-se. Se não queriam pagar só tinham que chamar o presidente do SCC e dizer-lhe que não tinham dinheiro para pagar. Assim sabíamos com o que podíamos contar. Prometer e não pagar, não.



JJR- Na mesma conferencia de imprensa também denunciou a falta de apoios dos empresários da cidade para com o clube. Sentiu que a mensagem passou ou mantem-se tudo na mesma?

JM- Naquela altura as mensagens tinham uma direção objetiva. A carapuça só assentou a quem a enfia. Algumas pessoas prometeram ajudar o SCC e na verdade nunca vimos rigorosamente nada. Eu não reclamo nada de ninguém, só ajuda quem pode, os sócios ajudam todos com a sua cota, muito importante para o clube.


JJR- A campanha dos 5000 sócios teve sucesso?

JM- Foi. Foi positiva. Chegamos quase aos 4 mil sócios, para quem tinha 2.500 … Os resultados da equipa também ajudam. Quando ganhamos há uma vontade, quando perdemos há outra. Neste campo sempre disse: a simples cota dos sócios é muito importante para o clube. Sinto que algumas pessoas, com posses na Covilhã podiam ajudar o SCC e não ajudam, mas não importa. Nós estamos cá para continuar a trabalhar, para pedir, para lutar, para continuar a cumprir os compromissos que nós vamos fazendo. Pagar é palavra de honra. Por isso, com mais ou menos dificuldades nós temos tido o apoio, mas como o senhor sabe eu sou insaciável. Sou insaciável a pedir vitórias, sou insaciável a pedir seja o que for para o clube. Quero sempre mais: se tivesse 5 mil sócios queria 10  mil e por ai fora. Como não sou uma pessoa que estou sempre satisfeita e como o dia de amanhã terá que ser melhor que o de hoje, se não chegarem 24 horas temos que trabalhar 48. Não entendo é que para não dar se continue a fazer referencia à crise. É a crise, volta a ser a crise é sempre a crise. Eu não alinho nisso. Se por causa da crise temos que trabalhar mais então trabalhe-se mais.


JJR- Vamos falar das questões relacionadas com os “novos” problemas que têm surgido no clube. Começamos com o problema dos Silos. Depois da denuncia publica que fez, em que acusou a direcção de João Manuel Petrucci de ter elaborado mal o contrato com a Parque C, o ex-presidente do clube já veio dizer que o Sr. sabia do contrato e que em nenhuma situação se detectou que o contrato feito era sujeito à cobrança de IVA. O que tem a dizer sobre isto?

JM- Deixe-me esclarecer esta questão. Eu ando há 10 anos a pagar dividas que não fui eu que as fiz. Quando lá cheguei e depois de ter apurado as contas, disse que o SCC tinha um milhão de dividas para pagar. Houve alguns inteligentes que não, não podia ser um milhão de euros. Como ainda sei fazer contas – a minha vida foi sempre ligada às finaças – o que apurei foi um milhão de euros. Também não disse, como quiseram fazer crer, que o contrato com a Braga Parques estava mal feito ou que alguém fez o que quer que seja. O que eu disse, e quando foi no Natal fiquei, como deve imaginar, ao meu estilo, de vez enquando, “passado”, como se diz em gíria. Fiquei muito chateado porque numa semana recebi das finanças para pagar 100 mil euros de IVA, de unm contrato que eu já vou explicar e ainda por cima recebi de um ex-presidente o pedido de uma quantia exorbitante para pagar, quando, segundo me lembro, foi um autocarro do SCC o para a quinta desse senhor e lembro que houve um processo em tribunal em que o SCC foi condenado a pagar uma determinada verba e que eu saiba e parece que toda a gente na Covilhã sabe, foi paga, até lhe digo mais, foi paga com dinheiro que pediram para os silos ( fala-se do ex-presidente Manuel Matias Vaz). Lembro que nas contas desse senhor não havia papeis que justificassem as despesas e que o autocarro do SCC foi para a quinta, foi avaliado e serviu para abater à divida.


JJR- Como vai resolver este assunto?

JM- Está resolvido. Isto é um problema que está resolvido. Há coisas que o tempo resolve e outras que quem resolve é o tempo.


JJR- É verdade que já teve que pagar 25 mil euros de juros referentes a essa divida ao estado ?

JM- É verdade. Já paguei 25 mil euros e não foi cobrada indevidamente como já vi por ai, nos comentários que alguns inteligentes fazem no site da Rádio Cova da Beira. Dizem que têm tantos anos de finanças e não entendo onde querem chegar. Para já, quando não tem conhecimento dos processos deviam-se informar. Acham-nos com cara de anjinhos ? Andamos para aqui a pagar aquilo que não tínhamos que pagar ?. Temos cá muito dinheiro para isso!

Para esclarecer o que na conferência de imprensa quis dizer e não tenho culpa que não tenham percebido, o que o presidente do SCC disse foi que: quando chegou à direção do Sporting em Setembro de 2004 o Senhor Petrucci tinha recebido em Abril 200 mil euros adiantados da Braga Parques. Não disse que o contrato era de 200 mil euros, porque não cabe na cabeça de ninguém quando recebia 127 mil euros por ano e o contrato tinha para ai 6 ou 7 anos. Quiseram fazer passar que eu tinha dito que o contrato era de 200 mil euros quando toda a gente sabia que o clube recebia cerca de 11 mil euros por mês.

Como sabem eu não mando dizer por ninguém o que quer que seja. Quando recebi a notificação das finanças chamei o Senhor Petrucci par perceber o que se passava. Outra coisa que eu não disse foi que o contrato era bom ou mau. No meu entender foi um contrato bom para a altura, toda a gente sabia das dificuldades.

Outra questão. É verdade ou não é verdade que antes de alugarem o parque à Braga Parques era um parque de estacionamento? É claro que sim. Quem fez o contrato foram os ilustres advogados do SCC e da Braga Parques. Em conjunto são solidários. A Braga Parques ou Parque C também tem responsabilidades na feitura do contrato. A mim o que me diz respeito é quem assinou o contrato e quem assinou o contrato foi o senhor presidente da direção e outro senhor da direção e eu tenho que tornar público que me estão a pedir o dinheiro. Se as finanças me querem cobrar, não posso esconder.

Quem sai prejudicado aqui é o SCC. Foi por isso que disse o que disse e arrependo-me de ter dito, mas no calor e a ferver, saiu uma frase infeliz. Não podia ter dito que “alguém vai ter que sentar o cu no mocho” isto não se diz em lado nenhum. Há outras maneiras de dizer estas coisas. Peço perdão por isso, mas estava deveras chateado, porque esta coisa de estar 10 anos sempre a levar com o mesmo é complicado. Quem assinou o contrato foi o senhor Petrucci e por isso é co-responsável. Quem o fez foram os advogados mas quem assinou foi o presidente e ele era o máximo responsável do clube.

Já foi ter uma reunião com a Braga Parques e eles disseram que nunca tinham tido caso nenhum deste género e a Braga Parques é a melhor no país.

Fomos ainda confrontados com outras baboseiras que nos entristecem. Que nada fizemos para resolver o problema, que ficamos sossegados. O presidente do Covilhã é um burrinho que anda aqui, que não sabe o que anda a fazer! Não, nós recebemos em Agosto das finanças, bem fundamentada, a notificação que tínhamos que pagar aquela importância é porquê só a partir de 2008 ?, porque para trás já tinha prescrito, se assim não fosse a verba era muito maior.

O contrato que fizeram em 2008 foi mal elaborado, chamem-lhe contrato de arrendamento ou de exploração, chamem-lhe o que quiserem, mas está mal feito. Mas, que não se ponha aqui que houve má fé de alguém, de quem está a falar no assunto ou de quem fez o contrato. Mas não há responsáveis ? Eu compreendo que o senhor Petrucci não perceba de economia e de questões jurídicas, como eu não percebo, damos às pessoas entendidas e ele na boa fé deu aos seus advogados. Depois das finanças terem constatado o engano e terem notificado o Sporting, nós fizemos tudo, contestamos, voltamos a contestar, já não tínhamos condições de resolver o problema que não fosse com a Braga Parques. Deslocamo-nos a Braga, eu, o presidente do conselho fiscal, que é um homem entendido na matéria, o contabilista e o senhor presidente da assembleia geral, porque eu não assumo esta responsabilidade sozinho. Mesmo quando se diz que eu já cá estava em 2004, é verdade e o que eu fiz na altura foi entregar todos os processos ao Revisor Oficial de Contas para conferir se estava tudo conforme. Ninguém me disse nada, é porque estava tudo bem.


JJR- Quem é que tinha que pagar o IVA ?

JM- O SCC foi prejudicado pela má feitura do contrato, os procedimentos seriam o SCC cobrar o IVA à Braga Parques que depois entregaria ao Estado. Neste momento o SCC paga sem ter recebido da Braga Parques, que também não nada de acordo em nos fazer chegar esse dinheiro. Na reunião que tivemos tentamos reaver esse dinheiro, se não o conseguirmos temos que tentar por outros meios, porque não podemos ser só nós a pagar. É verdade que o SCC fez o contrato mas a Braga parques é solidária na feitura do mesmo. Agora vamos ver o que podemos fazer. Temos que ir pelos caminhos certos, não com  “sentar o cu no mocho” mais uma vez peço desculpa por ter utilizado esta frase. Reforço que não há aqui má fé do Senhor Petrucci o que houve foi desconhecimento e uma falha, uma falha que também eu cometi, quando entreguei os documentos aos técnicos e apenas os cobri por cima, como nós dizíamos na tropa. Acontece.


JJR- O Sporting tem mais alguns assuntos pendentes na justiça, com ex- técnicos ou jogadores ?

JM- Só tivemos um problema com o treinador senhor João Pinto mas que foi resolvido em tribunal, o SCC não ficou prejudicado e agora estamos a pagar o valor acordado.

Como estão .


JJR- Houve alguma evolução nas questões relacionadas com o diferendo da sua direção com ex-presidente da mesa da assembleia geral, António Lopes?

JM- Nós estamos cheios de processos desses. São assuntos que não interessam. Estamos no clube para defende os seus interesses, fazer o melhor que podemos e sabemos e, como costumo dizer e esta frase é de marca “ não tenho medo de ninguém”. Uma coisa lhe garanto, Deus nos ajude e dê saúde ao nosso treinador e garanto-lhe que este ano o SCC vai ter os problemas que há anos andam para ser resolvidos, deixar o clube sem dividas..


RCB- Como está a questão da área social?

JM- Estamos a pagar o leasing e o que recebemos de rendas não chega para pagar metade da mensalidade ao banco. A equipa profissional trabalha para ajudar a formação e para as infraestruturas que o clube tem e isso não pode ser. As infraestruturas é que têm que dar dinheiro para o futebol profissional.


JJR- O Sporting pode chegar à liga principal?

JM- Adorava muito ir para a 1ª liga, ninguém gosta mais de ganhar do que eu, só sei ganhar, mas sei dar a mão à palmatória -  ainda bem que este ano temos perdido menos vezes – mas a subida é muito complicado.


JJR- Qual é a sua posição em relação à contestação que está a ser feita ao presidente da Liga, Mário Figueiredo?

JM- Uma vergonha. O SCC nunca apoiou o Dr. Mário Figueiredo, avisei, votamos. Fico triste que as pessoas que o lá puseram sejam as mesmas que o querem por de lá para fora. Ele termina o mandato em Junho, e na minha opinião o melhor é deixar passar o tempo.


JJR- Qual a sua opinião da eventual divisão da Liga de Honra em duas zonas ?

JM- O SCC foi o único clube que votou contra esta proposta. É uma vergonha. Um dia destes acabam com a 2ª liga e volta tudo para  Federação.


RCB- Esteve presente na reunião que o Sporting promoveu para apresentar sugestões para melhorar o futebol nacional ? O que achou das propostas ?

JM- Fui convidado mas não oportunidade de ter estado presente, embora tenha todos os documentos ainda não tive tempo de os analisar, mas é positivo haver quem lance ideias para melhorar o futebol.


JJR- Como analisa as questões da arbitragem. O Sporting foi muito prejudicado no recente jogo que realizou em Viseu. A actuação de Duarte Gomes foi uma situação isolada ou Sporting tem referenciados outros maus desempenhos dos árbitros?

JM- Acho que a arbitragem no global está melhor. Os árbitros têm feito um bom trabalho. Eu que esta época tenho ido para o banco em todos os jogos, verifico que não é fácil. Nós cá fora não vemos alguns lances e acredito que aos árbitro aconteça a mesma coisa. Nós temos tido arbitragens excelentes. Nos 37 jogos já realizados, tivemos 5/6 arbitragens menos conseguidas. No deve e haver não deve haver diferença, agora, sempre se pode melhorar. O problema das televisões não ajuda nada, com as inúmeras câmaras vê-se tudo e discute-se a intensidade e ai esteve bem o presidente do Sporting ao se referir ao intensómetro.

Em Viseu apercebi-me que o árbitro esteve mal, mas que quer que lhe diga. Não foi por vontade dele, com certeza, pode ter sido por influência do auxiliar, o que é verdade é que o SCC foi prejudicado.


JJR- Como vai o relacionamento do Sporting com outros clubes da cidade e região e também com a AFCB?

JM- O SCC sempre se deu bem com todos os clubes, só não se dá bem connosco quem não quer. Da AFCB tenho algumas razões. Dou-me bem com o senhor Presidente, mas há alguns problemas nas camadas de formação. Nos mais pequeninos organizam-se os encontros e a AFCB nem árbitros indicam para os jogos. Não gastam um cêntimo, no entanto os clubes pagam as inscrições, mas são pequenas coisas.


JJR- Porque não fornece as convocatórias à comunicação Social?

JM- Para não dar trunfos aos nossos adversários