Hoje um sujeito, que já foi político e que continua junto deles, teve o desplante de dizer, num discurso proferido nas comemorações do 10 de Junho, que tiveram lugar em Castelo Branco, que Portugal está a passar pelo pior período do último século.
Não sei a idade do senhor, mas o que tenho a certeza é de que tem idade suficiente para não dizer tamanho disparate. É certo que aquele senhor foi um dos poucos privilegiados do antigo regime, mas certamente não se terá esquecido que há 40/50 anos Portugal tinha mais de 60% de analfabetos; não se terá esquecido que naquele tempo só tinham direito a ter estudos os meninos bem-nascidos ou os de melhores posses – como terá sido o seu caso - ; não se terá esquecido que naquele tempo não havia hospitais, não havia médicos, não havia enfermeiros, não havia escolas, não havia as coisas mais básicas e também não havia vias de comunicação. Naquele tempo para se ir do Fundão a Lisboa demorava-se 6 a 7 horas.
Mas esse senhor também se devia lembrar que nesse tempo o nosso país estava numa guerra sangrenta nas antigas colónias, onde morreram ou ficaram mutilados muitos milhares de jovens; esse senhor devia saber que o desemprego era cinco ou seis vezes superior ao actual. Foi nesse tempo que se deu o êxodo de mais de dois milhões de portugueses, a maioria, cerca de um milhão, a salto, para França e outros tantos para o Brasil, América, Canada, Venezuela, África do Sul e tantos outros países. Acresce a estes que imigraram, todos aqueles milhares de jovens que se encontrava a prestar o serviço militar, obrigatório.
Uma pessoa que assim fala, provavelmente, esqueceu a miséria que reinava nas famílias portuguesas, esqueceu ou não passou por isso, de se dividir uma sardinha por três, ou dividir um ovo cozido por três ou quatro, de haver famílias em que os filhos dormiam quatro na mesma cama, dois para a cabeça e dois para os pés, que as famílias, de tão pobres que eram, quando a doença lhes batia à porta e quando já pouco havia a fazer, tentavam, como recurso final, dar uma canjinha ao doente – porque outro remédio não havia - então lá se matava uma galinha quando, na maioria das vezes, o doente já não a conseguia comer.
Também terá esquecido que naquele tempo não havia saneamento, as famílias não tinham sanitários em suas casas, não tinham água corrente. A falta de higiene não era total porque os pobres sempre encontraram boas soluções para se manterem limpos e os filhos asseados, mas não tinham em suas casas as condições básicas.
Estes sim, estes é que foram os piores tempos de Portugal. Estes é que foram tempos que a todos nós envergonhavam. Não desvalorizem o que Portugal tem estado a fazer bem, realce-se o que Portugal ainda pode continuar a oferecer, hoje, aos portugueses.
Hoje António Barreto quis voltar a considerar de ignorantes os portugueses. Calado teria estado muito bem.
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