Ontem fiquei atónito com o que me aconteceu no Centro Hospitalar da Cova da Beira. Entrei no hospital da Covilhã às 15h15, com a minha esposa, com problemas de saúde e, depois do processo normal de admissão chamaram a minha esposa para a norma triagem. A situação ocorreu às 15h25. Como a enfermeira de serviço achou que não era uma emergência foi atribuída a fitinha verde, que, nestes casos, pode ter que esperar até 180 minutos. Bom, regras são regras e neste caso nem foi necessário que se esgotassem o 180 minutos. Pouco depois de duas horas de espera a minha esposa foi chamada.
Foi observada pelo médico se serviço que achou por bem canalizar o processo para a área de cirurgia. Por volta das 17h35 um funcionário chamou a minha esposa para que o acompanha-se. Pensou a minha esposa que iria ser sujeita a exames complementares de diagnóstico, como por exemplo análises. Não foi isso que aconteceu. Pouco metros mais à frente no corredor, o dito funcionário mandou minha mulher sentar-se e aguardar, porque iria ser sujeita a uma consulta de cirurgia.
Tudo normal, até aqui. O pior foi o que se seguiu. Passaram as 18h, as 19h, as 20h, as 21h, as 22h e as 23 horas e nem sinal da suposta médica de cirurgia. A minha esposa ficou a saber, sem que tivesse completas certezas, que a médica de serviço à urgência estaria a operar. Bom, em rigor, a ser verdadeira esta versão, a médica não se podia dividir em duas, ou estava a operar ou de serviço na urgência e se isso era um facto a situação é mais um caso de gestão dos serviços do que qualquer falha da própria médica, embora esta também tenha tido as suas culpas, não apenas em relação à minha esposa mas a outros doentes presentes. O caso mais flagrante teve a ver com uma senhora que deu entrada no hospital pelas 9 horas, foi atendida por volta do meio dia e, porque se concluiu que o caso dela teria que passar pelo internamento, a médica mandou esperar para que fossem preenchidos o requisitos necessários ao internamento, só que a dita senhora teve que permanecer no corredor do dito hospital, até às 21 horas, porque a médica não passou o relatório que daria seguimento ao processo, obrigando a senhora a ficar sentada num corredor, durante 12 horas e sem alimentação, quando podia ter ficado muito mais confortável, numa cama da enfermaria. Isto é uma falha grave e sem qualquer tipo de justificação.
Conclusão, a minha esposa, que não comia desde o almoço começou a sentir-se mal e, pelas 23h35, decidiu abandonar o Centro Hospitalar e regressar a casa, não só para se alimentar, mas também para poder tomar outros medicamentos que obrigatoriamente tem que tomar, por ser uma doente com várias patologias crónicas.
Naturalmente, porque quem não se sente não pode ser filho de boa gente, como muito bem diz o ditado popular, a minha esposa estava sentida e por isso preencheu o documento de reclamação. Quando se deslocou ao balcão de atendimento para que lhe fosse passado o documento comprovativo de que tinha estado no hospital desde as 15h25 e as 23h35, a funcionária negou-se a passar-lhe o documento alegadamente por não ter sido atendida pelo médico de serviço, ou seja, por não lhe ter sido passada alta. Obviamente, sem documento para apresentar no seu trabalho, a minha esposa veio embora.
Esta reflexão tem a ver com o facto de cada vez mais os doentes estarem sujeitos a ser tratados de forma desajustada, para não dizer leviana, nos nossos hospitais em Portugal. Não se compreende que o mesmo médico tenha que estar, em simultâneo, a operar e de serviço no serviço de urgências. Os doentes, que não têm culpa que haja falta de médicos, são pessoas e devem ser tratadas como tal e com toda a dignidade. Não podem, de forma alguma, estar num hospital, durante oito (8) horas, para serem atendidas. Quem não perceber isto não está a prestar um bom serviço ao país e não pode, na nossa opinião, desempenhar funções de chefia.
Sem comentários:
Enviar um comentário